- Vinícius Santos Pereira
Cuidado! Nitrogênio em excesso pode reduzir sua produtividade
Em um teste conduzido no município de Cristalina, Goiás, em 2020 na cultura do milho segunda safra, verificamos o impacto de aplicar uma dose de nitrogênio (N) superior ao necessário em uma região que já possuía alta suficiência do nutriente.
O experimento simulou o que acontece em regiões com plantas de alta suficiência de nitrogênio ao receber a mesma quantidade de insumo demandado nas regiões menos desenvolvidas.
Procedimento
O experimento ocorreu dentro de uma área irrigada que recebeu a segunda adubação de cobertura em taxa variável com Smart-N. A taxa padrão adotada pela fazenda com manejo convencional (taxa fixa) seria de 150 kg/ha de ureia comum (45% N), porém a média geral prescrita pelo Smart-N foi de 100,5 kg/ha, economizando aproximadamente 50 kg/ha de ureia na média geral.
A realização do teste se deu em uma região do talhão que apresentava índice de suficiência de nitrogênio (SI) muito alto no momento do aerolevantamento.
Nesse local, segundo a recomendação em taxa variável do Smart-N, era necessário aplicar apenas 51 kg de ureia por hectare, bem abaixo da média do talhão. Alí foi selecionada uma parcela para ser adubada com uma taxa de 180 kg/ha.
O mapa de aplicação em taxa variável com a área do experimento em destaque pode ser vista na figura abaixo.
Figura 1 - Mapa de aplicação de nitrogênio em taxa variável gerado pelo Smart-N com destaque para o local onde foi realizada a aplicação de uma dose acima da necessária.
Posterior à aplicação do insumo, logo antes da colheita, foram realizadas coletas de espigas em vários locais de acordo com a suficiência de nitrogênio no momento do mapeamento e os componentes de produtividade foram analisados.
Resultado
Com as análises dos componentes de produtividades foi constatada redução expressiva no número de grãos por espiga das plantas que receberam nitrogênio em excesso. O peso de mil grãos sofreu perdas em relação ao manejo com Smart-N, porém em menor grau.
Figura 2 - Comparação das espigas coletadas na parcela saturada em nitrogênio (esquerda) e nas redondezas (direita).
A produtividade final estimada na parcela com saturação de nitrogênio e na área que recebeu a taxa indicada pelo Smart-N foi de 133 e 170 sacos por hectare, respectivamente.
Isso significa que além do gasto desnecessário de 129 kg/ha de ureia, a aplicação de uma taxa excessiva causou uma queda no rendimento de 37 sacos/hectare ou 22% em relação ao manejo do Smart-N.
Por que isso acontece?
Existem diversas possíveis causas para o fenômeno, sendo as mais prováveis ligadas a:
Desbalanço nutricional;
Crescimento vegetativo excessivo.
Nesse caso o desbalanço nutricional pode ter ocorrido devido à uma proporção muito elevada de nitrogênio em comparação com outros nutrientes, especialmente potássio (K) e enxofre (S).
Segundo Büll e Cantarella (1993), aplicações de taxas elevadas de nitrogênio sem aumento correspondente de potássio podem resultar em relações N:K inadequadas e consequente queda de produção e biomassa. Outras consequências observadas são:
Aumento de acamamento;
Redução do conteúdo de proteína;
Redução da qualidade de silagem e
Redução do peso de 1000 grãos.
Ainda segundo os mesmos autores, a cultura do milho também precisa de um suprimento balanceado de nitrogênio e enxofre para atingir bons teores de proteínas e produtividade de grãos.
A queda de produtividade devido ao crescimento vegetativo excessivo pode ser devido a estresse hídrico, causado pelo aumento do índice de área foliar (IAF) das plantas. Como consequência há aumento do consumo de água e maior sombreamento das folhas localizadas no terço inferior da planta, reduzindo a taxa fotossintética da cultura (Ribeiro et al., 2020).
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